terça-feira, 20 de novembro de 2012

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Blog Palavra Livre

 

Por Jonas Scherer Blog do Jonas Scherer 

 

Entrevista: Davis Sena Filho — 20/11/2012

 

 

Fotografia: Marcelo Migliaccio
       O jornalista Davis Sena Filho é do tipo que podemos chamar de esquerdista. Tal posicionamento político em crise, como um lacônico Bobbio¹ chegou a afirmar, parece continuar mantendo vigor e, até mesmo, o seu tradicional vocabulário. Criador do blog com fundo vermelho Palavra Livre e crítico contumaz da Revista Veja, Davis expõe suas concepções nesta entrevista. Entrevista conduzida por e-mail entre 12 e 19 de novembro de 2012.
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Jonas Scherer: Por que tu consideras a Veja uma revista bagavunda?

Davis: Não considero a Veja uma revista bagavunda. É mais do que este adjetivo. Considero, sim, a Veja uma revista perigosa, porta-voz da direita e da extrema direita, que demonstrou no passado e mostra no presente que não mede consequências para atingir seus objetivos, tanto no campo ideológico, político e partidário quanto na esfera econômica, pois dependente de publicidade oficial do Governo Federal, bem como associada há cerca de 20 anos a negócios firmados com o governo paulista e a prefeitura paulistana.
O Grupo Abril da família Civita é questionado por autoridades públicas eleitas, por grande parte da sociedade civil organizada e é acusado, inclusive, de ser vinculado a interesses estrangeiros, além de ser ainda ponta de lança do Departamento de Estado e da CIA, no que concerne a combater os interesses geopolíticos, econômicos e diplomáticos do Brasil.
Desde que governantes trabalhistas, há dez anos, assumiram a Presidência, a Veja, de forma sistemática e proposital, passou a elaborar um jornalismo de caráter declaratório — o que é considerado por muitos como uma lástima tanto no âmbito profissional quanto no acadêmico —, com entrevistas não gravadas, fato este que considero desleixo e leviano, de oposição raivosa, que tem como propósito fundamental boicotar o programa de governo dos trabalhistas, que foi aprovado pela maioria da população por intermédio das urnas.
Além disso, as matérias da Veja não dão margem ao contraditório e muito menos dão espaço àqueles que se consideram caluniados, injuriados ou difamados, pois para terem acesso ao direito de resposta os ofendidos têm de fazer uma verdadeira via crucis. Quando, enfim, conseguem se explicar de acusações muitas vezes pérfidas e injustas, o tempo já passou e o espaço é bem menor do que o das acusações e das  supostas denúncias.
Os barões da imprensa querem o monopólio da informação eternamente, não se conformam com a quebra do monopólio propiciado pela blogosfera, que deu uma nova dinâmica ao leitor ou ao cidadão, no que tange a também participar e a discutir a vida brasileira de forma ativa e não somente passiva. Por isso, a luta desses empresários, na minha opinião, os mais atrasados e reacionários da categoria empresarial, bem como os que representam o que as sociedades têm mais de perverso: a classe dominante que luta pela exclusividade e não pela inclusão de todas as pessoas no processo de desenvolvimento social e econômico.
Eles, os reacionários, acham que a felicidade é um sonho inatingível para a “plebe” e que o mundo, a vida ou até mesmo Deus – eu já ouvi isso – tem seus escolhidos e preferidos. Portanto, como se percebe, a exclusão para muitos desses “profetas” do cinismo e da perversidade é normal, obra da natureza.
Para eles, existem pessoas “escolhidas” para viverem bem, sendo que a maioria da população tem de viver de forma precária, com dificuldade e mesmo assim ter de ser feliz, mesmo se morar nos morros, nos guetos e nas periferias. Por isto e por causa disto, combato os oligarcas da comunicação de caráter patrimonialista e, sobretudo, golpista. A verdade é que eu considero a Veja, a revista porcaria, um vetor de informação das “elites” econômicas, racistas, exclusivistas, separatistas e violentas. Apesar de todo o poder midiático, seus áulicos são colonizados, provincianos, no mau sentido, e submissos aos ditames do que vem de fora, do exterior.
Por isso, insisto sempre para que o Governo Federal regulamente o que está na Constituição, no que concerne à efetivação de um marco regulatório para o setor econômico midiático brasileiro, público e privado, como ocorre em outros países da América Latina, na Europa e nos Estados Unidos. Defendo ainda a criação de empresa publica para implementar a banda larga, rápida e barata em todos o lares. Através dela, romper-se-á de vez o controle da informação por parte das oligarquias midiáticas, o que propiciará a participação cívica e política dos cidadãos brasileiros, de forma mais autêntica e menos manipulada.
A Veja não é bagavunda. É mais do que isto. A Veja é a revista porcaria, autora do autêntico e verdadeiro  jornalismo de esgoto, porque distorce os fatos, manipula e mente para o público. É uma revista criminosa que aposta, inclusive, e se puder, em golpe de estado contra os eleitos pelo povo brasileiro.

Jonas Scherer: De quem tu ouviste que Deus tem seus escolhidos?

Davis: Olha, Scherer, desde 1981, quando entrei na faculdade de Comunicação, eu lido com muita gente. Só em Brasília, trabalhei no Congresso cerca de dez anos. Conheci gente poderosa e rica, fui a reuniões sociais e de trabalho, e, evidentemente, tratei com gente elitista e que não conhece e nem faz questão de conhecer as realidades brasileiras e suas desigualdades. Portanto, quem me disse tal frase foram pessoas elitistas, ainda mais quando estão em um ambiente tranquilo, informal, como, por exemplo, o de uma festa.

Jonas Scherer: E hoje, qual tu achas que é a festa da imprensa?

Davis: A imprensa não faz festa. Ela joga duro, porque tomou para si a oposição política ao Governo Federal, já que percebeu que os tucanos estão há muito tempo fragilizados.

Jonas Scherer:  Quem é que faz festa?

Davis: Quem faz a festa e quer continuar com a festa são os que querem manter o status quo, ou seja, seus benefícios e privilégios. Evidentemente que as classes abastadas sempre terão privilégios em qualquer tempo. O problema é que quem faz a festa não quer distribuição de renda e de riqueza, porque luta contra a emancipação do povo brasileiro.

Jonas Scherer: E o povo brasileiro vai conseguir se emancipar sem uma babá?

Davis: Que babá? O povo brasileiro é trabalhador e não precisa e nunca precisou de babá. Quem sempre precisou de babá é a “elite” deste País, que sempre controlou o estado, de forma patrimonialista, a se aproveitar de benefícios em todas as esferas de poder, a começar pelo Judiciário, que sempre garantiu seus interesses. Temos uma elite que quer um País VIP. Se engana o arrogante que pensa que o povo precisa de babá. O povo, por meio de pagamento de impostos, sempre alimentou e fomentou os privilégios das classes dominantes e abastadas, por intermédio dos bancos públicos, das estatais e de toda estrutura pertencente ao estado brasileiro, a grande babá dos que tem mais. A verdade é que essa gente fala mal dos governos, mas não vive sem eles. Quando eu falo de emancipação, falo de acesso à educação, à saúde, à moradia e ao emprego, de forma plena e democrática. Eu falo é de igualdade de condições e oportunidades para todos os indivíduos. Isto é a emancipação do povo. E é exatamente isto que os porta-vozes das classes dominantes (os meios de comunicação comerciais e privados) não querem.

Jonas Scherer: E o povo brasileiro vai conseguir se emancipar, mesmo contra a vontade dessa Babá?

Davis: Claro. A história não tem volta e quando se repete, repete-se em forma de fraude, de falácia. A humanidade luta pelo seu desenvolvimento, pelo seu bem-estar social. O Brasil de Dilma e Lula é um Brasil que avançou no que é concernente às oportunidades e à inclusão social. É visível e somente não enxerga quem não quer. Os estrangeiros, por exemplo, já enxergaram há muito tempo. Os cegos são aqueles que, apesar do fracasso retumbante do neoliberalismo, querem retomar um modelo que levou fome, miséria, desassossego e exclusão social. Os porta-vozes da direita e da extrema direita e seus intelectuais orgânicos estão encastelados no Instituto Millenium, entidade golpista em que pregam a volta do que deu errado e privilegiou poucos.

Jonas Scherer: Que exemplos tu podes citar em relação a essa emancipação?

Davis: A emancipação de qualquer povo é feita por intermédio do combate às desigualdades sociais e regionais e pela promoção do acesso às oportunidades. Os governos trabalhistas de Dilma e de Lula e, no passado, de Jango e Getúlio fizeram isso, porque foram e são governos com programa e projeto de País e por causa disso tão combatidos, sendo que o sistema midiático privado é o porta-voz das classes dominantes e dos interesses empresariais internos e externos.
Quando Lula implementa o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o ProUni, o Enem, o Sisu, o Fies, as cotas universitárias, o Luz para Todos, realiza obras não mostradas e boicotadas pela imprensa, como a transposição do rio São Francisco, a construção de hidrelétricas, como as de Baixo Iguaçu, São Roque, Belo Monte, entre outras; efetiva a abertura e recuperação de rodovias, a construção de estradas de ferro, que atravessam regiões, a recuperação da indústria naval, a construção de mais de duzentas escolas técnicas, de universidades, além dos trabalhos já iniciados do Pré-Sal, fortalece a Petrobras em âmbito mundial, além de incrementar a agricultura familiar e facilitar o acesso ao empréstimo por parte da população e dos pequenos empresários, bem como começa a baixar os juros e pagar a dívida externa e com isso “expulsar” o FMI do Brasil, percebe-se que, de forma rápida e consistente, edifica-se um cinturão de proteção social, por meio de oportunidades e de diminuição das desigualdades.
Como a direita não tem proposta e não pensa o País, porque somente pensa em seus negócios empresariais e na diminuição do estado, apesar do crescimento da população – somos 200 milhões de habitantes – , não há outra solução para ela do que se acumpliciar com a imprensa de negócios privados e assim fazer uma campanha incessante de oposição, tendo como base uma “indústria” de escândalos, muitos deles inverídicos, falsos, além de criar polêmicas para tudo o que é assunto ou proposta do governo, porque, como a direita não tem projeto para o País, resta-lhe o embate político por meio da criação de crises.
Se pararmos para pensar, como é que uma oposição derrotada poderia enfrentar governos trabalhistas que incluíram 40 milhões de pessoas nas diferentes classes médias e retiraram 30 milhões de pessoas que estavam abaixo da linha de pobreza e que hoje estão empregadas, a maioria com carteira assinada, conforme os números do IBGE e do Ministério do Trabalho? As melhorias sociais e econômicas são tão evidentes, o respeito ao Brasil no exterior é tão visível, afinal, somos a sexta economia do mundo, que ficou muito difícil para a oposição reacionária, conservadora, ressentida e herdeira da escravidão vencer eleições. Por isso, as crises intermináveis na imprensa e no Judiciário, aliados da oposição partidária, levada à cabo pelos tucanos do PSDB e seus congêneres. A resumir: o conjunto desses avanços propicia a emancipação do povo. O ódio da direita, dos conservadores é justamente causado por essa emancipação.

Entrevista no Blog do Jonas Scherer

2 comentários:

Mauro Linhares disse...

Excelente entrevista, Davis. Explicou muita coisa. Só que não se sabe quando teremos um marco regulatório para que esses empresários de mídias falem o que quiser sem serem rebatidos na mesma tecla.

Joahermen disse...

Meu caro Davis, gostaria de saber de Você: qual é o seu ponto de vista sobre o marco civil da internet?